Aventuras no transporte coletivo – Última versão

Desculpem-me os leitores “flashes”, mas hoje vou escrever muito. Preciso desabafar.

Comecei a usar o transporte coletivo de Goiânia quando tinha meus 13 ou 14 anos. Lembro-me que minha primeira linha era a 010-Veiga Jardim/Eixo Mutirão, algo assim. Foi quando mudei de escola e fui estudar no colégio Ipê do Setor Bueno. Desde cedo, também comecei a vivenciar as aventuras que os ônibus da capital podiam me proporcionar.

A primeira cena engraçada foi quando meu primo, que estudava no mesmo colégio e ia de ônibus comigo, foi passar pela primeira vez na catraca. Ele passou o bilhete e, ao invés de passar, passou a mochila. Depois ficou com querendo passar, como se um bilhete servisse para ele e a mochila. Normal, rata de iniciantes.

Depois disso, comecei a colecionar uma série de histórias, algumas compartilhadas neste blog. Andei em várias linhas de Goiânia. Campinas/Fama/Centro, Morada Nova/Centro, 010, Goiânia II/Centro, Vila Brasília/Terminal Praça A, Bairro São Francisco/Terminal Dergo, 253, 261, 325, 004, Eixo Anhanguera (vulgo Eixão, que liga uma ponta da cidade à outra, estilo um metrô) e, por fim, 008. Claro que entre um e outro experimentei outras drogas, ou melhor, outras linhas. Mas essas são as que me lembro de cabeça.

Mesmo com todo esse histórico, foram nas linhas 253 (Aruanã III/Via Riviera), 261 (Aruanã III/Res. Olinda) e 008 (Veiga Jardim/Eixo 85), onde acumulei a maioria das minhas historinhas particulares que geraram risos, choro, ódio e raiva, muita raiva.

A raiva
Conheci personagens cômicos, tristes, pobres e ricos. Passei raiva quando tinha dor de cabeça e tinha algum filho de Deus para conversar alto e demais, quando a frente do ônibus ficava lotada, com todo mundo esmagado e o fundo vazio porque as pessoas não iam para lá. Quando o ônibus demorava e eu ficava fula da vida porque sou caxias com horários. Quando ele chegava cheio e mal dava para entrar ou quando não dava para entrar.

Tive dó de pessoas idosas, grávidas, com crianças de colo ou com alguma deficiência que ficavam de pé em frente a pessoas normais, que fingiam não as ver.

Também fiquei com ódio (várias vezes, só para constar), quando o motorista estava atrasado (ou não) e corria feito um louco e freiava bruscamente. Era gente caindo, gente voando, sacola para um lado, bolsa para o outro. Parecia mais estar carregando porco, embora eu acredite que os porcos sejam melhores transportados que os cidadãos goianos que precisam do transporte coletivo.

Lembro-me de muitas e muitas vezes xingar o motorista em pensamento, amaldiçoá-lo e suas futuras dez gerações. Não é exagero! ‘Como a Humberta é má!’? Que seja. Em alguns casos xinguei para ele ouvir e mandei aprender a dirigir. Até um “Então porque não compra um carro?’ eu fui obrigada a ouvir.

A espera
Também me fazia arder os olhos de raiva ter que ficar esperando os malditos ônibus. Para começar, tinha que ir para o ponto e esperar dar o horário dele sair, pois o horário nunca era fixo. Quando tinha que pegar dois então, aí era o caos.

Era sol, era chuva. Chovesse canivete, mas eu estava lá, firme e forte esperando o tal ônibus. Tinha que tomar cuidado com os criminosos, trombadinhas e com os loucos. Até gente me oferecendo limão para chupar eu já encontrei em um desses pontos.

Que loucura! Cerca de três horas do meu dia eram gastos assim: a espera de um ônibus ou dentro deles.

Macetes
Quando a gente anda de ônibus muito tempo vai aprendendo uns macetes. Um deles é sentar na cadeira atrás do motorista, pois lá o risco de ter que levantar para dar lugar a alguém é menor. Caridade e solidariedade é uma coisa, burrice é outra. Afinal, andar em pé dentro do ônibus é pedir para ter labirintite mais rápido.

Outra técnica para não pegar o ônibus cheio em horário de pico é pegar ele antes de dar a volta na Praça Cívica, no Centro de Goiânia. Tá que o tempo dentro dele dobra, mas pelo menos você vai sentado.

Outra técnica é sempre ir para o fundo. Não importa quantas pessoas você tenha que empurrar e o quanto de sebo você pegue das pessoas até chegar ao fundo. Lá, o aperto sempre é menor.

Preservar é o caramba!
Mesmo com todas as dores de cabeça, ainda sempre ouvi um ou outro dizer que as pessoas têm que andar mais de ônibus. Usar mais o transporte coletivo para desafogar o trânsito e poluir menos o meio ambiente. Ah é??? Então me dá seu carro e vai trabalhar de ônibus, Mané! Desculpem-me, não sou hipócrita. Se for para passar por tudo que já passei, vou poluir o meio ambiente com mais um carro na rua, aí arrumo um jeito para compensar.

Vida nova
Comprei um carro.

2 comentários:

elizabeth disse...

Que contradiçao no seu texto, num paragrafo vc diz que tem dó das pessoas mais fragilizadas que ficam em pé, em outro vc relata que aprendeu uma forma de ficar sentada sem ser incomodada, ou seja, ter que ceder seu lugar....mas mesmo assim seu texto esta muito bom. Vc esqueceu de relatar a mulher que colocava leite condensado na mão e depois lambia eca....

Humberta Carvalho disse...

Não é uma contradição. Eu acredito que as pessoas que estão sentadas nos lugares preferenciais têm que dar o lugar a quem eles realmente são destinados. Porém, isso não tira minha responsabilidade de dar o lugar a alguém que precise independente de onde estiver sentada, como fiz várias vezes.

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porque lá no fundo todo mundo pensa alto!

Vem dizer...

Vem dizer...
... que às vezes você não pensa alto!