Entre relâmpagos e trovões

De longe eu vi que o tempo estava fechado. Isso me agradou.
Sai do restaurante e, como ainda tinha muito tempo de folga, caminhei lentamente até o banco. Sem pressa, fui contemplando as nuvens se mexendo, o barulho do trovão, o balançar das árvores e o tinir do vento. Só faltou mesmo um relâmpago daqueles que te faz encolher e andar logo por medo de cair um raio em cima de você. Mas hoje foi diferente... Depois de meses sem poder ver o céu naquele emaranhado de nuvens escuras e sentir o cheiro de poeira - mais conhecido como cheiro de chuva - o medo de levar uma 'raiada' se escondeu atrás do desejo de poder aproveitar ao máximo aquele momento.

Sem pressa entrei no banco, saquei o dinheiro e voltei. A volta foi ainda mais vagarosa. Olhava pro alto, para as árvores, para o nada. Não resisti e parei. Tinha que dividir com alguém aquele momento sublime e cheio de graça.

- Estamos tão acostumados com o sol quente que quando o tempo está assim a gente até estranha.

Ele, que também estava encostado em um alambrado, com os braços cruzados e observando a chuva que se aproximava, respondeu:

 - É, estava precisando chover.

É, estava.
Voltei de costas para aquele mundo de nuvens escuras que se aproximava. Voltei devagar, sentindo o cheiro dela se aproximar, se aproximar, se aproximar...

Não sei se é só comigo, mas deu vontade de deitar no sofá e me cobrir com um edredom. Para completar a cena faltaria meu bom e velho travesseiro, um pijama velho, um par de meias, um copo de leite com toddy quente e um filme de sessão da tarde ou qualquer outro - eu iria cochilar de qualquer forma. Pronto. Aí ela podia cair... desaguar... 'torrenciar'... molhar... chover....

Mas não. Entrei, subi as escadas e sentei-me em frente ao computador. O lado de fora agora era um mundo desconhecido para mim. Levantei-me por alguns minutos, sai para o corredor e pude ver uma brecha pela janela. Lá estava ela! Tão esperada! Voltei para o computador e trabalhei sem desfrutar da presença daquela que tanto me fez sonhar.

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porque lá no fundo todo mundo pensa alto!

Vem dizer...

Vem dizer...
... que às vezes você não pensa alto!